A história é contada a partir do ponto de vista do dominador, do vencedor. Com a historia do povo brasileiro não é diferente.
por Acacio Godoy membro da CONEPIR – Conselho do Negro de Piracicaba.
Hoje vivemos um momento muito importante para a história afro-brasileira. Momento esse que representa toda luta dos abolicionistas, os quilombos, a frente negra e todos os militantes dos movimentos negro do país pois estamos retomando com todas as dificuldades mas também com muita firmeza a posse da nossa verdadeira historia. Esse é um processo lento e difícil e que tem exigido a soma de varias forças em diversas frentes entre elas a histórica, a política, a cultural, a social e principalmente a educação .
Contar a sua própria historia é muito importante para a criação da identidade de um povo e ai reside a importância da comemoração do mês da consciência negra e o dia 20 de novembro. Neste mês fazemos a reflexão sobre essa identidade, debruçados sobre a historia mal contada trabalhamos para reconta la de maneira correta.
Os feriados da republica e religiosos atendem ao mesmo intuito de se fazer reviver momentos históricos de nosso país, relembra-los e assim reconta-los de gerações em gerações mantendo viva a lembrança daquele período com todos os ensinamentos que deles possam vir.
Recontar a historia do povo negro que ajudou a construir a riqueza e a identidade nacional sem esbarrar na lamentação e sim demonstrando a força e o valor da pluralidade sócio cultural que a vinda dos africanos trouxe a edificação do nosso país despida dos preconceitos, do racismo e dos vícios do ponto de vista do escravizador, do dominador e do explorador é nosso maior desafio.
Quando os negros foram sequestrados do seu país e do seu continente para o Brasil não foram trazidos para cá escravos e sim reis, rainhas, artesãos, guerreiros e famílias. O negro entra na historia oficial como escravo e sai em 13 de maio de 1888 quando da abolição e no restante da linha do tempo seu papel é diminuído, excluído, alterado e até mesmo ignorado pela historia oficial. Um exemplo disso é a frente negra que chegou a ter 100 mil associados na década de 30, um grupo que é considerado uma espécie de partido negro e que chegou a ter inclusive órgãos de imprensa e que desarticulado pelo governo Vargas não consta nos livros de história e nem é contada ou ensinada nas escolas.
O 20 de novembro e o próprio mês da consciência negra é uma oportunidade indispensável de revisitar-mos nossa historia com olhos atentos, rediscuti-la e a partir daí avançarmos para o futuro sobre uma base solidificada na verdade. Esse é um dos papeis dos movimentos negros contemporâneos, avançar na luta iniciada por tantos outros pela busca da nossa verdade, pela reafirmação do nosso orgulho, pela riqueza de nossos ancestrais e pela sua sabedoria milenar sem perder de vista outros desafios como a luta das classes sociais, a valorização da cultura, o acesso ao trabalho e a renda, alem de educação e saúde, o combate ao preconceito, ao racismo e a discriminação.
O 20 de novembro nos remete a um de nossos heróis, Zumbi dos Palmares, mas temos tantos outros para festejarmos e admirarmos na historia do Brasil e tantos outros nos surgem a cada dia que precisaremos de muitos novembros negros para contar e recontar a historia de cada um.
Durante a segunda Guerra mundial Winston Churchill mandou seus soldados fotografar e documentar em tudo o que encontrasse sobre o genocídio judeu, e disseque se assim não fosse em 50 anos pessoas negariam que aquilo havia ocorrido. Nem bem haviam passados os 50 anos e ainda com sobreviventes do holocausto já surgiam pessoas negando as atrocidades daqueles acontecimentos terríveis. Pois bem, o mesmo ocorrerá com nossa historia se abrimos mãos de nossas datas festivas, da oralidade da documentação e da pesquisa exaustiva sobre nossas verdades por isso viva Zumbi e viva a acima de tudo a consciência.
Acácio Godoy – Presidente da Comissão de Ética do CONEPIR.
Informações: acacio@conepir.org
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